Impulsionada por alguns amigos decidi fazer caminhada todas as manhãs...na verdade trata-se de mais que uma caminhada...resolvi acompanhá-los a subir a serra de sta helena todos os dias...e há quatro semana faço disso uma rotina – acordo às 6, encontro alguns companheiros no pé da serra às 6:30 e lá vamos nós...é claro que o ritmo de caminhada das pessoas é diferente mas caminhávamos todos juntos nas primeiras semanas...mas nessa última semana resolvi acompanhar meu ritmo interno...resultado: subo a serra sozinha e espero os espero lá em cima por alguns minutos...
minuto no dicionário significa sexagésima parte da hora; sexagésima parte do grau; momento, instante...mas se repararmos bem, os minutos mudam o sentido de tempo dependendo da situação, tipo: um minuto numa fila é infinitamente maior que um minuto na frente da tv, um minuto quando estamos apertados para ir ao banheiro é infinitamente maior e mais doloroso que um minuto deliciando um belo sorvete...
bom, voltando ao momento em que eu esperava meus amigos lá no banquinho de frente para a igrejinha da serra, senti um bem-estar incrível...sabe àqueles minutos matinais tão longos que dá para analisar e planejar todo o seu dia?...pois é, me aconteceu algo incrível naquela sexta-feira...
eu ali sozinha deitada no banco ouvindo o barulho e o frescor do vento simplesmente não pensei em nada...um nada incrível que eu só me dei conta quando o pessoal chegou e percebi que não fazia meses que eu estava ali deitada naquele banco e sim – simples minutos...logo eu que sempre achei que estar pensando era a coisa mais importante do mundo, logo eu que me culpava quando não tinha nada para fazer, e me sentia na obrigação de estar pensando, planejando, resolvendo meus problemas e se eles não existissem, resolvendo os problemas dos outros ao meu redor...
é, eu descobri o prazer de “não fazer nada”...me permiti ser impotente quanto aos milhares de problemas que eu e minha família estamos enfrentando atualmente, descobri que não posso mudar a cabeça das pessoas ao meu redor, seja namorado, amigo, primo, tia, cachorro, vizinho...tudo isso por alguns minutos...que se passaram...
Rubem Alves disse:
(...) dever é isto: aquela voz que grita mais alto que meus desejo e me obriga a fazer o que não quero. Pois, se eu quisesse, ela não precisaria gritar. Eu faria por puro prazer. E se grita, para me obrigar à obediência, é porque o que o dever ordena não é aquilo que a lama pede. (...)
Fernando Pessoa disse:
Ah! A frescura na face de não cumprir um dever! Só podemos ser felizes quando formos como os ipês; quando florescemos porque florescemos; quando ninguém nos ordena o que fazer, e o que fazemos é só filho do prazer (...)
(...) Somos o intervalo entre o nosso desejo e aquilo que o desejo dos outros fez de nós (...)
Voltando ao Rubem Alves:
“lembro-me das minhas primeiras lições de filosofia, de como eu me ri quando li que, para o Taoísmo, a felicidade suprema é aquilo a que dão o nome de Wu-Wei, fazer nada. Achei que eram doidos. Porque, naqueles tempos, eu era um ético que julgava que a ação era a coisa mais importante. Ainda não havia aprendido as lições do Paraíso – que quando se está diante da beleza só nos resta...fazer nada, gozar a felicidade que nos é oferecida”.
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