Adoro fotografar...gosto mais ainda de fotografar paisagens (o que chateia um pouco os amigos que gostam de ver foto com pessoas). A verdade é que lugares e objetos me motivam muito mais que fotografar gente...e o hábito de ficar sempre com a máquina na mão despertou em mim uma visão mais interessante dos lugares...e passei a entender melhor o que antes me intrigava: fotos artísticas em preto e branco retratando a miséria, favelas e flagelados, lixão etc...antes, aquilo me causava uma indignação: como alguém pode querer tornar belo a desgraça alheia? como alguém pode vender uma foto de um rosto marcado pelo sofrimento ou de meninos vasculhando lixo para tirar algum alimento dali? Eram esses meus questionamentos antigos antes de me aventurar pelo mundo da fotografia...e cheguei a simples conclusão de que estes fotógrafos não são insensíveis quanto aos problemas sociais, e até vi no National Geographic (NatGeo para os íntimos, como diz meu irmão, hehe) um documentário sobre a vida e trabalho dos fotógrafos da revista/rede, mostrando as dificuldades e tristezas na elaboração de uma boa foto. E cheguei a conclusão que o fotógrafo é assim como o repórter: precisa mostrar a realidade embora não concorde com as misérias que essa realidade implica...e que é necessário sim divulgar...p/ tornar o problema real sem vulgarizar... (embora haja muito sensacionalismo fotográficos nos jornais por aí)...bom, mas o que eu queria dizer é que aprendi a respeitar o conteúdo de uma boa foto...e aprendi a olhar as coisas com um olhar mais crítico e cuidadoso...e confesso que hoje quase não existe um lugar para mim que posso considerar feio, pq tudo depende do olhar...segundo Rubem Alves “o olhar terno deseja ser pintor, fotógrafo. A pintura e a fotografia eternalizam a cena, cristalizam o efêmero. O olhar terno deseja que aquele momento seja eterno...

Ah! Lembrei porque comecei a pensar nisso: é que revi o filme O Náufrago esses dias e fiquei pensando na capacidade de nos apaixonarmos pelo virtual, pela fotografia ou pelo que ela representa...a gente se apaixona pela imagem que criamos das pessoas, inventamos histórias com a imagem e moldamos os outros de acordo com nossa visão sobre ela, o encantamento não está no que se vê e sim no que se imagina...como no filme, em que o protagonista se encontra numa ilha e tem como uma de suas atividades diárias admirar o rosto da amada no retrato...olha esse texto:














“Por que tenho saudade de você, no retrato, ainda mais que o mais recente?
E por que um simples retrato, mais que você, me comove, se você mesma está presente?
Talvez porque o retrato, já sem o enfeite das palavras, tenha um ar de lembrança.
Talvez porque o retrato (exato, embora malicioso) revele algo de criança (como, no fundo da água, um coral em repouso).
Talvez pela idéia de ausência que seu retrato faz surgir colocado entre nós dois (como um ramo de hortênsias).
Talvez porque o seu retrato, embora eu me torne oblíquo, me olha sempre de frente (amorosamente).
Talvez porque o seu retrato mais se parece com você do que você mesma (ingrato).
Talvez porque, no retrato, você está imóvel (sem respiração...).
Talvez porque todo retrato é uma retratação...”
Você e seu retrato, Cassiano Ricardo.

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