software

Por mais que eu não seja uma pessoa estressada...
Por mais que eu tento ser calma e rasante...
Por mais que eu prefira a calma à agitação...
Eis que eu murchei...
Murchei feito flor sem luz...
Murchei feito pomar sem água...
Murchei feito um bêbado equilibrista cujo desejo da alma contradiz o desejo das pernas...
Nome para isso? Tem sim! Chamaram de hipoglicemia...chamaram de síndrome vestibular periférica irritativa...chamaram de stress...chamaram de nova dieta...chamaram de reeducação alimentar...chamaram de medicamentos diversos...

O que sinto, Rubem Alves descreve como software sensível...rsrsrs... Não deixe de ler:
Receita Para a Saúde Mental
(...) Saúde mental, essa condição em que as idéias comportam-se bem, sempre iguais, previsíveis, sem surpresas, obedientes ao comando do dever, todas as coisas nos seus lugares, como soldados em ordem única, jamais permitindo que o corpo falte ao trabalho, ou que faça algo inesperado (...) Pensar é uma coisa muito perigosa...
(...) Nós somos muito parecidos com computadores. O funcionamento dos computadores como todo mundo sabe, requer a interação de duas partes. Uma delas chama-se hardware, literalmente “equipamento duro”, e a outra denomina-se software “equipamento macio”. Hardware é constituído por todas as coisas sólidas com que o aparelho é feito. O software é constituído por entidades “espirituais” – símbolos que formam os programas e são gravados nos disquetes. Nós também temos um hardware e um software.
O hardware são os nervos do cérebro, os neurônios, tudo aquilo que compõe o sistema nervoso. O software é constituído por uma série de programas que ficam guardados na memória. Do mesmo jeito como nos computadores, o que fica na memória são símbolos, entidades levíssimas, dir-se-ia mesmo “espirituais”, sendo que o programa mais importante é a linguagem.
Um computador pode enlouquecer por defeitos de hardware ou por defeitos no software. Nós também. Quando nosso hardware fica louco há que se chamar psiquiatras e neurologistas, que virão com suas poções químicas e bisturis consertar o que se estragou. Quando o problema está no software, entretanto, poções e bisturis não funcionam.
Não se conserta um programa com chave de fenda. Porque o software é feito de símbolos e somente símbolos podem entrar dentro dele. Ouvimos uma música e choramos. Lemos os poemas eróticos de Drummond e o corpo fica excitado. Imagine um aparelho de som. Imagine que o toca-discos e os acessórios, o hardware, tenham a capacidade de ouvir a música que ele toca e se comover. Imagine mais, que a beleza é tão grande que o hardware não a comporta e se arrebenta de emoção!
Pois foi isso que aconteceu com aquelas pessoas que citei no princípio: A música que saia de seu software era tão bonita que seu hardware não suportou... Dados esses pressupostos teóricos, estamos agora em condições de oferecer uma receita que garantirá, àqueles que seguirem a risca, “saúde mental” até o fim de seus dias.
Opte por um software modesto. Evite coisas belas e comoventes. A beleza é perigosa para o hardware. Cuidado com a música... Brahms, Mahler, Wagner, Bach são especialmente contra-indicados. Quanto às leituras, evite aquelas que fazem pensar. Tranqüiliza-se, há uma vasta literatura em impedir o pensamento. Se há livros do doutor Lair Ribeiro, por que se arriscar a ler Saramago?
Os jornais têm o mesmo efeito. Devem ser lidos diariamente. Como eles publicam diariamente sempre as mesmas coisas com nomes e caras diferentes, fica garantido que o nosso software pensará sempre coisas iguais. E, aos domingos, não se esqueça do Sílvio Santos e do Gugu Liberato.
Seguindo essa receita você terá uma vida tranqüila, embora banal.
Mas, como você cultivou a insensibilidade, você não perceberá o quão banal ela é (...)
Hoje eu não quero a paz...
Quero o grito, o apelo, o nocivo, o incômodo, o insuportável...
Hoje eu não quero o submetido...
Quero a voz, o “não-querer”, o contesto, o palanque de praça, o justiceiro...

“Pela paz que eu não quero seguir admitindo” Marcelo Yuka

Minha Alma (A Paz Que Eu Nao Quero)
Rappa

a minha alma está armada
e apontada para a cara
do sossego (sego)
pois paz sem voz
não é paz é medo (medo)
às vezes eu falo com a vida
às vezes é ela quem diz
qual a paz que eu não quero
conservar
para tentar ser feliz
as grades do condomínio
são para trazer proteção
mas também trazem a dúvida
se não é você que está nessa prisão
me abrace e me dê um beijo
faça um filho comigo
mas não me deixe sentar
na poltrona no dia de domingo
procurando novas drogas
de aluguel nesse vídeo
coagido pela paz
que eu não quero
seguir admitindo