Foi até a estante, pegou um livro de crônicas, leu calmamente enquanto tomava o café, foi interrompida por um barulho de crianças na rua...percebeu que era sábado...e sentiu um imenso vazio, que só as pessoas sozinhas no sábado a tarde conseguem sentir...sentiu-se triste e só...conferiu a agenda telefônica do celular, passando calmamente nome por nome...sentiu-se ainda mais só...na imensa lista no telefone não havia ninguém para ligar naquele sábado de sol quente, crianças na rua, casais de namorados desfilando e programas ruins na televisão...quis chorar...decidiu tomar um banho, colocar sua melhor roupa e ir ao cinema sozinha...isso! um bom filme anima qualquer mortal...pega o carro na garagem e se sente muito bem...carro, vento no rosto, a possibilidade de ir aonde o vento levar, a música alta, tudo isso a faz sentir a pessoa com a maior liberdade que pode existir...num pensamento rápido, lembra Rubem Alves: “Os homens dizem amar a liberdade, mas de posse dela são tomados por um grande medo e fogem para abrigos seguros. A liberdade é amedrontadora.Os homens são pássaros que amam o vôo, mas têm medo de voar. Por isso abandonam o vôo e se protegem em gaiolas” de volta ao volante pensa na liberdade e se aprisiona no medo...porque não deixar o carro ser guiado para lugar nenhum? quem sabe ir para a serra do cipó sozinha? sumir pelo mundo naquela tarde de sábado azul?...Conclui – não, não seria prudente, e se limita à liberdade de um carro em alta velocidade, no vento que bate na janela...e diz baixinho: melhor um cinema...e pronto...o sábado tornou a ter sentido...
Rubem Alves: “Somos assim. Sonhamos o vôo, mas tememos as alturas. Para voar é preciso amar o vazio. Porque o vôo só acontece se houver o vazio.
