quero, quero, quero...

Faz-me rir
Faz-me pura
Faz-me pecadora
Faz-me estrela
Faz-me grama
Faz-me tempestade
Faz-me dia de sol
Mas não me faz dócil, não me faz pomba, não me faz boneca
Cansei de ser dona, cansei de ser capacho, cansei de ser euzinha chatinha aborrecidinha chorona palhaça sem graça sem ventas sem provas...
Agora eu quero o mundo quero o tudo quero chorar até não agüentar mais mas quero viver quero sede tenho sede mato sede...
Não sou artista mas sei bem o que sei sei bem o que não sei bem o que quero o que gosto o que não quero e gosto...
Passo falso na chuva quero molhar-me quero secar-me quero...quero...quero...

flor de setembro

...

calcuro o passar dos anos não por me sentir mais velha, pela idade que aumenta, pelo que conquistei ou deixei de conquistar...calculo o passar dos anos pelo meu peso na balança (que aumenta a cada ano) e pelas lindas flores vermelhas que florescem no jardim da minha casa em setembro...
logo no início do mês, elas florescem lindas, honestas e de forma bem humilde, como se elas não precisassem ficar floridas o ano inteiro para serem belas e representativas...diferente dos ipês que também aparecem em determinada época do ano mas por outro motivoeles são vaidosos...e magníficos...pois florescem quando tudo está feio, quando o mato é seco, quando a paisagem é fria e sem vida...daí eles embelezam soberanos, únicos, em meio a paisagem seca...
as minhas flores vermelhas de setembro não são assim, são comuns e também são lindas...e eis que elas (e outras mil) estão lindas neste mês...só que minhas flores vermelhas são especiais...pois só aparecem em setembro...para me lembrar que mais um ano se passou...

memória poética

cheiro de shampoo, cheiro de pele, cheiro de manjericão, barulho de tosse, fungada e espirro, e imagens, muitas imagens...minha memória é assim...um misto de sensações de olfato, audição e muitas, muitas imagens...parece mesmo que existe no cérebro uma zona específica, intitulada por Rubem Alves (meu grande ídolo das crônicas) de “memória poética”, onde fica registrado o que nos encantou, o que nos comoveu, o que dá beleza à nossa vida. Sou grata à minha memória poética, que, muito melhor do que minha memória para números, contas, fisionomias e nomes,é ligada às sensações...e assim sou eu...sensação da ponta dos pés ao último fio de cabelo...sensações fotográficas, em sua maioria, ligadas (graças a Deus) a belas imagens...ligadas ao lado bom, ligadas a cheiro gostoso de shampoo, pele e manjericão....ligadas a tosse de pai, fungada de mãe e espirros mil de amigos...e ligadas aos bons momentos...sim, sou grata a minha memória poética que só recupera o que foi bom....