Ontem tive o prazer de assistir uma palestra do Frei Betto...(pra quem não conhece o Frei Betto, ele é um escritor e religioso mineiro, militante de movimentos pastorais e sociais, que entre mil ocupações também foi assessor especial de Lula e coordenador de Mobilização Social do programa Fome Zero. Também foi preso duas vezes pela ditadura militar e recebeu vários prêmios por sua atuação em prol dos direitos humanos e a favor dos movimentos populares).
É claro que, antes de assistir a essa palestra, eu já admirava sua obra, respeitava seus textos e sua atuação, mas ver e ouvir a pessoa falar na sua frente é bem diferente...ainda mais porque eu só o conhecia em textos...em escritos...enfim, tipos de comunicações mais elaboradas, que, por mais bem escritas que sejam, não conseguem exprimir a naturalidade da fala, a simplicidade do pensamento falado...isso porque a língua falada difere, e muito, da linguagem padrão, normativa, gramatical...é uma língua “solta”, que leva em conta o contexto, a situação, etc....
Mas nada de aula de lingüística agora, afinal, eu estava falando da palestra do Frei Betto e, é claro, a minha reflexão sobre ela...
Bom, o que mais me chamou a atenção nesse encontro foi a visão do Frei acerca do poder...Frei Betto reforçou a idéia de que “só conhecemos de fato uma pessoa quando concedemos poder a ela”, e, assim, discorreu sobre alguns aspectos do seu livro “A Mosca Azul”, no qual ele recorre ao poema de Machado de Assis, para explicar as relações de poder que se estabelecem em todos os campos, principalmente no Planalto Brasileiro. A mosca azul é aquela de asas de ouro e granada que, ao picar alguém, o deixa “deslembrado de tudo, sem reflexão”, ou seja, com a cegueira e a desmemoria que o poder seduz.
Ao microfone, Frei Betto disse “é preciso evitar o veneno da mosca azul e injetar valores na estrutura do poder”, porque, no poder, as pessoas tendem a se despersonalizar, preferindo encarnar mais a função que ocupam do que a pessoa que fato são. “Não é que o poder tenha a capacidade de mudar as pessoas....ele apenas faz com que manifestem suas verdadeiras faces".
Eu por mim mesma: é, o poder é mesmo um revelador das vaidades...um pouquinho de poder em casa ou em qualquer uma de nossas relações faz com que a gente se sinta grande, no andar de cima, insubstituível e único....
Agora imagina você no poder supremo? Imagina você dono dos direcionamentos da sociedade? Um rei, um presidente, enfim, o sultão da Casa Branca? É, o poder não muda as pessoas...se você é caridoso, humanista, etc... não vai deixar de ser porque conseguiu o poder, mas pode ter certeza que suas características ruins, como inveja, vaidade, desejo de riquesas ficam ainda mais transparentes no poder...
Se quero o poder? Não, prefiro os bastidores...hehehe