adaptando...
Estou me amando enquanto pessoa...
Vibrando, mesmo com a rotina...
Andando, mesmo com o ócio...
Enxergando, mesmo com a febre...
Escutando, mesmo com o silêncio...
Volto para mim...
Volto para meu lar...
Volto para minha família...
Volto para dentro...saio pela esquina...pulo o buraco...dou a volta na solidão...
E a festa acabou e o ano acabou e a crise chegou assolando a multidão...
Então são dívidas, então são cismas, então são risos e choros...
Estou me adaptando em mim...
Estou me amando enquanto pessoa...
Comendo, mesmo com as medidas...
Sentando, mesmo com a correria...
Sorrindo, mesmo com as dívidas...
Chorando, mesmo com os enganos...
PAI
Estou num período que, por coincidência ou não, grande parte dos meus amigos perderam o pai...e, nesse momento tão triste comecei a refletir sobre a importância de meu pai, tudo o que ele representa para mim e o tamanho da falta que ele faria se já tivesse chegado a hora dele...
Sou espírita, tenho um entendimento a respeito da morte que atenua os sofrimentos do mundo... mas o que me parece mais estranho de ter instrução e conhecimento sobre os assuntos é que eles não caminham lado a lado com os sentimentos...os sentimentos percorrem caminhos muito diferentes da sabedoria...e sinceramente...não imagino qual seria a minha reação se perdesse meu pai - esse alguém que representa tanta coisa boa para mim...
Pai para mim é segurança, sinônimo de proteção...se ele está presente a casa dorme tranqüila...
Pai para mim é trabalho, sinônimo de bom exemplo...foi ele quem me passou o maior ensinamento de todos, de que é preciso trabalhar sempre...para edificar e para nunca depender de ninguém para sobreviver...
Pai para mim é companheirismo, sinônimo de fidelidade...foi ele quem me alertou sobre o mundo e me abraçou a cada frustração que o mundo me proporcionou...
Pai para mim é amor, sinônimo de mãe...ele me provou que o homem pode sim amar a mesma mulher a vida inteira, me tirando o grilo de que não se pode confiar em homem nenhum ou amá-los...
Enfim, se eu o perdesse, sofreria mais que de mais...mas com certeza levo comigo até o fim de minha vida tudo o que ele representa para mim...
Ah! Com todos esses falecimentos, comecei a prestar mais atenção se eu sou tão boa com ele em proporção do quanto ele é bom para mim...e graças a Deus posso dizer...tento...acho que até consigo...
E a gente só percebe isso quando faz algo para agradá-lo e ele nem percebe, ou seja, ele não acha estranho esse agrado...Fim de semana passado, fui para o sítio com ele...chegando lá disse: pai, eu te amo...e ele respondeu, naturalmente, eu também...e isso nem lhe soou estranho...me chamou para uma caminhada, fui ao lado dele sem falar nada, só observando suas atitudes...me senti tão bem de ter ele ali que só queria curtir o momento...ele nem percebeu tamanha observação...que bom, talvez eu faça isso tantas vezes que nem soou especial....
quero, quero, quero...
Faz-me pura
Faz-me pecadora
Faz-me estrela
Faz-me grama
Faz-me tempestade
Faz-me dia de sol
Mas não me faz dócil, não me faz pomba, não me faz boneca
Cansei de ser dona, cansei de ser capacho, cansei de ser euzinha chatinha aborrecidinha chorona palhaça sem graça sem ventas sem provas...
Agora eu quero o mundo quero o tudo quero chorar até não agüentar mais mas quero viver quero sede tenho sede mato sede...
Não sou artista mas sei bem o que sei sei bem o que não sei bem o que quero o que gosto o que não quero e gosto...
Passo falso na chuva quero molhar-me quero secar-me quero...quero...quero...
flor de setembro
calcuro o passar dos anos não por me sentir mais velha, pela idade que aumenta, pelo que conquistei ou deixei de conquistar...calculo o passar dos anos pelo meu peso na balança (que aumenta a cada ano) e pelas lindas flores vermelhas que florescem no jardim da minha casa em setembro...
logo no início do mês, elas florescem lindas, honestas e de forma bem humilde, como se elas não precisassem ficar floridas o ano inteiro para serem belas e representativas...diferente dos ipês que também aparecem em determinada época do ano mas por outro motivoeles são vaidosos...e magníficos...pois florescem quando tudo está feio, quando o mato é seco, quando a paisagem é fria e sem vida...daí eles embelezam soberanos, únicos, em meio a paisagem seca...
as minhas flores vermelhas de setembro não são assim, são comuns e também são lindas...e eis que elas (e outras mil) estão lindas neste mês...só que minhas flores vermelhas são especiais...pois só aparecem em setembro...para me lembrar que mais um ano se passou...
memória poética
MULHER DE LENÇO DE BOLINHA
Era eu
já cansada de receber não
jovem, mas desiludida com a profissão escolhida
era eu batalhando, era eu escrevendo, era eu entrevistando, era eu fotografando...
era eu sendo entrevistada por empresas de Rh, era eu fazendo provas de concurso público...
também era eu aqui...tentando buscar esperanças...
E sou eu aqui, sou eu quem vê hoje a simplicidade das coisas...também sou eu quem visitei famílias e comunidades que nada têm além da esperança...
Então sou eu agradecendo aos céus tudo que fiz até hoje...então sou eu quem renovo as esperanças...então sou eu quem vai continuar na batalha...
* estava eu, ansiosa, esperando uma resposta de um emprego que não veio, colhecionando aftas na boca (ansiedade me causa aftas) e vendo tv a noite quando vi, na Rede Minas, um especial com a banda Nação Zumbi - que eu adoro e admiro muito...daí eles tocaram uma música do Jorge Ben que se encaixou e faz todo o sentido para mim neste momento...a letra é essa aí:
O Homem Da Gravata Florida
Jorge Ben Jor
Lá vem o homem da gravata florida
Meu deus do céu... que gravata mais linda
Que gravata sensacional
Olha os detalhes da gravata...
Que combinação de côres
Que perfeição tropical
Olha que rosa lindo
Azul turquesa se desfolhando
Sob os singelos cravos
E as margaridas, margaridas
De amores com jasmim
Isso não é só uma gravata
Essa gravata é o relatório
De harmonia de coisas belas
É um jardim suspenso
Dependurado no pescoço
De um homem simpático e feliz
Feliz, feliz porque... com aquela gravata
Qualquer homem feio, qualquer homem feio
Vira príncipe, simpático, simpático, simpático
Porque... com aquela gravata
Êle é esperado e bem chegado
É adorado em qualquer lugar
Por onde ele passa nascem flores e amores
Com uma gravata florida singela
Como essa, linda de viver
Até eu, até eu, até eu, até eu, até eu,...
* essa letra, de tão bôba e singela que é, me fez pensar nas coisas simples, que diariamente deixamos de prestar atenção....vou tentar ficar mais feliz, só que sendo a mesma MULHER DE LENÇO DE BOLINHAS...
Estas, entre outras milhões, são expressões que usamos no dia-a-dia que nada mais fazem que indicar e espalhar o preconceito contra os negros, pretos, pretinhos, ou como a constituição acha que melhor expressa “afro-descendentes”...
Embora o uso dessas expressões nem sempre são ditas de forma preconceituosa pelos falantes, a criação das mesmas já não foi feita de forma tão despretensiosa assim...
Sim, foi intencional e foi com intuito de denegrir a etnia negra sim...
Por quê? Porque há alguns bons séculos atrás os colonizadores europeus em terras africanas precisavam justificar (de forma mentirosa) a superioridade deles em relação aos colonizados (os negros). Para isso, tentaram (e de certa forma até conseguiram) induzir aos colonizados idéias de que era preciso submeter-se à ordem imposta porque eles eram raças inferiores, porque não possuíam armamentos, porque não tinham (segundo os europeus) qualificação técnica para comandar....então foram introduzindo, em doses homeopáticas, preconceitos na linguagem, na religião, nos afazeres em geral.
O pior é que nós brasileiros, frutos dessa mistura entre europeus, índios e negros, engolimos, alienados que somos, todos esses preconceitos que dizem respeito a nós mesmos....
Eu sou preta, pretinha de alma, coração, sentimentos, sensações, conhecimentos etc....
“branca de alma negra” “parda de alma negra” pois no meu íntimo, corre o sangue negro de quem odeia injustiças, de quem sofre com elas, de quem se vibra inteira ao barulho de um tambor, de quem luta e sobrevive, de quem quer igualdade para todos....
PRETA (Daniela Mercury)
Eu sou preta
Trago a luz que vem da noite
Todos os meus santos
Também podem lhe ajudar
Basta olhar pra mim pra ver
Por que é que a lua brilha
Basta olhar pra mim pra ver
Que eu sou preta da Bahia
Eu tenho a vida no peito das cores vivas
No meu sangue o dendê se misturou
Tenho o fogo do suor dos andantes
E a paciência do melhor caçador
Eu sou preta
Vou de encontro à alegria
Minha fantasia é mostrar o que eu sou
Vim de Pirajá cantando pra Oxalá
Pra mostrar a cor do alá de Salvador
Eu sou preta, mãe da noite, irmã do dia
Sou do Cortejo Afro encantador
Filho de Ilê Ayê, Ghandi Mestre Pastinha meu amor
Vou misturar o que Deus não misturou
Um abraço negro
Um sorriso negro
Traz. felicidade
Negro sem emprego
Fica sem sossego
Negro é a raiz da liberdade
Negro é uma cor de respeito
Negro é inspiração
Negro é silêncio, é luto
Negro é a solidão
Negro que já foi escravo
Negro é a voz da verdade
Negro é silêncio é a luta.
Negro também é saudade
Começou com a tal escravidão.
Onde todo o sacrifício era nas costas do negão
Hoje ta tudo mudado e o negro ta ligado.
Atrás de um futuro melhor considerado.
Respeito amor dignidade atitude.
Trabalho dinheiro cidadania e saúde.
E para o nosso país integração.
E para o nosso povo paz e união.
Preta.
História sobre ninguém parte 2
em plena puberdade
espinhas estouradas no rosto
diferentemente dos outros meninos, gostava de ler
e tinha nesse hábito um prazer incomensurável
gostava de ler romances imensos...e sentia vergonha por isso
medo das pessoas o julgarem estranho...
lia escondido, durante a madrugada, quando a luz é pouca e
o silencio desconcertante...
ficava atento aos barulhos da casa...
para ninguém perceber que ele estava acordado...
no escuro do quarto, podia ser tudo:
Martim possuindo Iracema sobre o efeito do vinho
ou a Capitu de Machado de Assis...
não precisava ser menino, homem, mulher, tudo tão definidinho...
nem ele mesmo sabia se tinha estas questões resolvidas em sua cabeça...
sabia que gostava mais do mundo da literatura que do mundo real...
sabia que teria que acordar cedo no dia seguinte e enfrentar os alunos da escola...
as terríveis aulas de educação-física e a exibição de masculinidade nos meninos e a vaidade corporal das meninas...
sabia como funcionava o mundo adolescente mas não queria participar dele...
preferia fingir que era tímido...
preferia se esconder nas lentas garrafais que o enfeiavam...
preferia chegar a hora de ir pra cama...
hora de viajar, de ser alguém, de ser livre...
história sobre ninguém...
já de meia idade
acumulava em seu íntimo manias e sonhos impossíveis
gostava de se travestir em seus sonhos...
criava personagens:
menino jogando bola sozinho, menina na frente do espelho, senhor discreto lendo jornais, jovem viril namorando, etc...
fazia isso andando pelas ruas...
prestava atenção nas pessoas que iam e vinham...
brincava de adivinhar pra onde iam, o que faziam, se estavam tristes ou preocupados...
chegara em casa sem nada nas mãos...
lembrara que gostaria de ter comprado folhas verdes para a salada...
planejara um lindo prato colorido e saudável...
pra quê comprar rúcula, alface, agrião e espinafre?
comer sozinha? as folhas iriam murchar...
podia ter plantado suas folhas favoritas...assim colheria só o necessário...
pensa então em comprar sementes...
mas precisaria de adubo e uma boa pá...
desiste de fazer isso hoje...resolve comer fora
escolhe um bom restaurante, senta-se sozinha...
um copo só, obrigada...
repara na família ao lado...pai, mãe, menino, menina...
será que são felizes? será que ele a ama? será que ela o trai?
come vagarosamente o macarrão com folhas de manjericão...
o cheiro do prato perfuma o ambiente...
pensa então em plantar manjericão em sua futura horta...
aquela horta que há anos não sai da sua solitária imaginação....
O PODER
É claro que, antes de assistir a essa palestra, eu já admirava sua obra, respeitava seus textos e sua atuação, mas ver e ouvir a pessoa falar na sua frente é bem diferente...ainda mais porque eu só o conhecia em textos...em escritos...enfim, tipos de comunicações mais elaboradas, que, por mais bem escritas que sejam, não conseguem exprimir a naturalidade da fala, a simplicidade do pensamento falado...isso porque a língua falada difere, e muito, da linguagem padrão, normativa, gramatical...é uma língua “solta”, que leva em conta o contexto, a situação, etc....
Mas nada de aula de lingüística agora, afinal, eu estava falando da palestra do Frei Betto e, é claro, a minha reflexão sobre ela...
Bom, o que mais me chamou a atenção nesse encontro foi a visão do Frei acerca do poder...Frei Betto reforçou a idéia de que “só conhecemos de fato uma pessoa quando concedemos poder a ela”, e, assim, discorreu sobre alguns aspectos do seu livro “A Mosca Azul”, no qual ele recorre ao poema de Machado de Assis, para explicar as relações de poder que se estabelecem em todos os campos, principalmente no Planalto Brasileiro. A mosca azul é aquela de asas de ouro e granada que, ao picar alguém, o deixa “deslembrado de tudo, sem reflexão”, ou seja, com a cegueira e a desmemoria que o poder seduz.
Ao microfone, Frei Betto disse “é preciso evitar o veneno da mosca azul e injetar valores na estrutura do poder”, porque, no poder, as pessoas tendem a se despersonalizar, preferindo encarnar mais a função que ocupam do que a pessoa que fato são. “Não é que o poder tenha a capacidade de mudar as pessoas....ele apenas faz com que manifestem suas verdadeiras faces".
Eu por mim mesma: é, o poder é mesmo um revelador das vaidades...um pouquinho de poder em casa ou em qualquer uma de nossas relações faz com que a gente se sinta grande, no andar de cima, insubstituível e único....
Agora imagina você no poder supremo? Imagina você dono dos direcionamentos da sociedade? Um rei, um presidente, enfim, o sultão da Casa Branca? É, o poder não muda as pessoas...se você é caridoso, humanista, etc... não vai deixar de ser porque conseguiu o poder, mas pode ter certeza que suas características ruins, como inveja, vaidade, desejo de riquesas ficam ainda mais transparentes no poder...
Se quero o poder? Não, prefiro os bastidores...hehehe
Marcelo, Marmelo, Martelo
A correria, as chateações, as desilusões da vida adulta me levam cada vez mais a me esconder no meu “mundo imaginário”...mundo que comecei a criar ainda criança (de verdade!)...é nele que tenho tudo o que quero: um bom emprego, uma casa com varanda e quintal para plantar minhas hortaliças, um companheiro que me admira, etc...
Quando criança, era nesse mesmo mundinho que eu sonhava em ser grande (frustração ainda permanente, rss), era nele que eu sonhava em ganhar o carro conversível da barbie (ganhei da minha prima, no meu aniversário de 25 anos, rss), era nele que eu questionava os porquês dos nomes, das palavras, das letras, das notícias (fui ser jornalista e fazer Facul de Letras por causa desses questionamentos)...
Ai, como é doce e amargo o meu “mundo imaginário”,...lá dentro dele muitas coisas se dispersaram com o passar dos anos, outras ficaram mais evidentes, e outras passaram a me intrigar ainda mais...
Sabe aquele filme que se chama “Antes de Partir” lançado no Brasil este ano, com Jack Nicholson e Morgan Freeman? Aquele que conta a história de dois homens com câncer em estágio terminal, que resolvem fugir do hospital para pôr os pés na estrada com uma lista de coisas que gostariam de fazer antes de morrer? Pois é, não estou próxima de morrer (bom, assim espero né?) mas tenho pensado muito no meu mundo imaginário...pensando naqueles sonhos que posso tornar realidade...pensando no que ainda me intriga...e no que eu deixei de saber e agora faço questão...
Parece que não tem nada a ver, mas lembrei de um livro que li quando criança que se chamava “Marcelo, Marmelo, Martelo”...fui na enorme biblioteca de D. Nalda (minha mãe) e comecei a procurá-lo alucinada. Enquanto revirava as estantes, lembrei da capa do livro com detalhes em amarelo, lembrei do cheiro de feijão cozinhando enquanto eu o lia, lembrei da terra que tinha na parte da frente da minha casa, lembrei do quanto eu já quis relê-lo depois de adulta..enfim, não achei o livro....mas pensei que era “quase uma obrigação” eu ler esse livro de novo e satisfazer o meu mundo imaginário das idéias de Marcelo, Marmelo, Martelo...enfim, fui no google, procurei algo sobre o livro e já fiz o pedido de um exemplar num site de compras....hehehe...
* Detalhe: o post não tem nada com nada, mas tudo bem...enfim, não era p/ ter sentido mesmo....
verdade
Tenho raiva, impaciência e muita, muita vontade de cuspir verdades...se fazem mal ou bem só o tempo e Deus dirão...
Mas tenho cuspido verdades, verdades que causam dor, verdades inconvenientes, verdades mal ditas, verdades indelicadas, mas acima de tudo verdades...
e não me sinto bem em dizê-las...não mesmo...sinto um verdadeiro incômodo...mas não tô me contendo dentro de mim...quando raciocínio melhor, quando penso no valor e importância destas verdades me perco...me machuco, porque muitas delas poderiam simplesmente não serem ditas...
antes de dormir penso "será que valeu a pena dizer aquilo?" Aí desmaio de sono sem chegar a uma definição...mas ao abrir os olhos sinto um ligeiro bem estar de não estar engasgada com algo que estou sentindo...
Pra piorar sempre tem alguém me forçando a isso, sempre vem alguém me cobrando e pedindo para resolver suas verdades ocultas e eu volto a me sentir forte, pronta para "ajudar a revelar mais e mais verdades"...
Meus sentimentos não são os mais nobres...não chegam nem a ser nobres....
Mas é que eu não tô me contendo...
"No pais do futebol
eu nunca joguei bem
Poderia ser um sintoma
mas meu jogo de cintura
se manifestou de outro jeito
É que eu não sei mentir
Eu tento, eu tento
mas muitas vezes
tudo acaba em gargalhada
Eu me entrego no olhar
gaguejo, espero pra ver se colou
é sempre fácil perceber
que eu não sei mentir
é sempre fácil perceber
que eu não sei mentir direito
Eu não sei mentir direito, não
Eu não sei mentir direito
Até que um dia uma pessoa me falou
que a minha falta de malicia
era o negativo de uma mesma foto
avesso esperto da malandragem
que se manifestava
naturalmente difícil
Que se manifestava
naturalmente dificil
Ele disse que sou confuso
mas sou claro
E é por isso que eu cheguei inteiro
até aqui
Justamente eu, justamente eu
Justamente eu que não sei mentir direito"
ensaio sobre a lua
Grama molhada e fria
Laranja, enorme bola laranja que exerce um poder incrível, um fascínio, uma vontade louca de enlouquecer....
*A lua, vista em Sete Lagoas, estava incrível ontem...mas os desconcertos da fotógrafa fizeram sua luz movimentar...as fotos ficaram quase incompreensíveis, mas vale o post....
Estrada...
Pouca quilometragem...pouco assunto...mistura de ânsia, medo, expectativa...
Um papo aqui, outro ali – eu e ela (a serenidade) sabíamos bem, a intuição falava alto...a certeza da enorme carga que ia chegar...
Rodoviária...
Gente indo, gente vindo, vão ansiedades, vêm tristezas, vêm corações aliviados, vão corações angustiados, mistura de cheiros, mistura de figuras, saudades, decepções...tudo ali impressos diante do meu nariz...as bagagens? Individuais...as bagagens expostas variam de tamanho...as interiores também, imagino, as interiores são ainda mais individuais...
Enfim, a carga...
Não tive pena, não chorei, não quis parecer fria demais...e nem receptiva demais... é muito fácil pedir abrigo, o difícil é retribuir...nem foi aquilo que imaginei...ela (a serenidade) também não se emocionou...estava preparando o terreno há dias...também ficou calma, um pouco mais receptiva, é verdade, mas também estava calma...o coração estava preparado...a carga estava aí, bem chorosa, bem falante, bem nervosa, bem preocupada...os vazios das conversas estavam me incomodando...logo alguém falava alguma coisa para o vazio não ficar tão desconcertante...fiquei quieta, respondendo silabicamente, queria analisar mais do que falar...queria sentir mais do que expressar...
Estrada de novo...O vazio continuava...a carga falava sem parar para escutar sua própria voz... ao meu lado, ela, a serenidade...que de forma bem humana explicava os futuros procedimentos...reforcei as normas...silêncio...dirigi calada, olhava pelo retrovisor o ser, o ser humano dito carga...olhava o que o ser humano pode ser capaz de fazer com ele mesmo...vi o desgaste físico, vi o desgaste emocional, vi, literalmente a degradação, o fim do poço, o fim da dignidade...não quis ver o futuro, palavra de espanto até em mim...FUTURO...
Alguém que desejo bem acima de tudo
Alguém que idolatro, admiro, me faz bem, me faz filha, me faz adulta, me faz jornalista, me faz professora, me faz ser forte, me faz ser frágil, me faz ser dona do meu nariz...
Esse alguém atende pelo nome de Regina, Regis, Reginalda, Nalda, Bú, Binha, e acima de tudo Mãe...
“ela me faz tão bem, ela me faz tão bem, que eu também quero fazer isso por ela”
Intacta Memória
Sinuca do Sim
Gosto de dizer sim
Gosto das pessoas que dizem sim
Admiro a sonoridade do sim
Entusiasmo com alegria do sim
Temo o antônimo do sim
Sei o peso do sim e o alívio do sim
Sofro com alguns sins
É sim, assim simples...
Simples, forte, suave, provocante, contraditório, sacana, bacana, positivo...
Sim, sim, sim...
Quero sim
Sofro sim
Pesa sim
Digo sim
Milágrimas
Zélia Duncan
Composição: Itamar Assumpção - Alice RuizEm caso de dor, ponha gelo
Mude o corte do cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema, dê um sorriso ainda que amarelo
Esqueça seu cotovelo
Se amargo for já ter sido
Troque já este vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério, deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada milágrimas sai um milagre
Em caso de tristeza vire a mesa
Coma só a sobremesa
Coma somente a cereja
Jogue para cima, faça cena
Cante as rimas de um poema
Sofra apenas, viva apenas
Sendo só fissura, ou loucura
Quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena, reze um terço
Caia fora do contexto, invente seu endereço
A cada milágrimas sai um milagre
Mas se apesar de banal chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal Sinta o gosto do sal
Gota a gota, uma a uma Duas, três, dez, cem mil lágrimas,
sinta o milagre
A cada milágrimas sai um milagre
A menina rebola e samba
Chora, chora, chora...
Chora de fome o rapaz na esquina
Vibram, vibram, vibram...
Vibram cores e alegorias...
Sonha, sonha, sonha...
A velha sonha com tempos antigos
Bebem, bebem, bebem...
Bebem senhores, moças e meninos
Sujam, sujam, sujam...
Sujam as ruas de lixo e mijo
Sofrem, sofrem, sofrem…
Sofrem de dores e desgostos
Acaba, acaba, acaba...
Acaba o carnaval então feliz ano novo...
Rodrigo Amarante
momento ana carolina
Confesso
Composição: Ana Carolina e Totonho Villeroy
Confesso acordei achando tudo indiferente
Verdade acabei sentindo cada dia igual
Quem sabe isso passa sendo eu tão inconstante
Quem sabe o amor tenha chegado ao final
Não vou dizer que tudo é banalidade
Ainda há surpresas mas eu sempre quero mais
É mesmo exagero ou vaidade
Eu não te dou sossego, eu não me deixo em paz
Não vou pedir a porta aberta é como olhar pra trás
Não vou mentir nem tudo que falei eu sou capaz
Não vou roubar teu tempo eu já roubei demais
Tanta coisa foi acumulando em nossa vida
Eu fui sentindo falta de um vão pra me esconder
Aos poucos fui ficando mesmo sem saída
Perder o vazio é empobrecer
Não vou querer ser o dono da verdade
Também tenho saudade mas já são quatro e tal
Talvez eu passe um tempo longe da cidade
Quem sabe eu volte cedo ou não volte mais
Hoje Eu Tô Sozinha
Composição: (ana Carolina)
Hoje eu tô sozinha e não aceito conselho
Vou pintar minhas unhas e meu cabelo de vermelho...
Hoje eu tô sozinha não sei se me levo ou se me acompanho
Mas é que se eu perder, eu perco sozinha
Mas é que se eu ganhar, aí é só eu que ganho...
Hoje eu não vou falar mal nem bem de ninguém
Hoje eu não vou falar bem nem mal de ninguém...
Logo agora que eu parei, parei de te esperar, de enfeitar nosso barraco, de pendurar meus enfeites, te fazer o café fraco, eh!...Parei! De pegar o carro correndo, de ligar só prá você, de entender sua família e te compreender, êh!...
Hoje eu tô sozinha e tudo parece ser maior, mas é melhor ficar sozinha...que é prá não ficar pior...